Por que muitas mulheres desconhecem o orgasmo?
A ansiedade é um dos fatores que mais atrapalham a vida sexual das mulheres, sabia disso, sugar baby? Muitas têm dificuldade de atingir o orgasmo e uma conversa franca e aberta nem é cogitada. Um estudo do departamento de Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da USP (Universidade de São Paulo) mostrou que 55% das brasileiras não têm orgasmos durante o sexo. Para a psicóloga e sexóloga, Elisangela Pereira, isso ainda é consequência de uma sociedade castradora, principalmente quando se refere à sexualidade feminina. “Vejo que o que mais atrapalha as mulheres ainda é a questão da repressão. A gente está em 2020, mas muitas mulheres têm dificuldade de falar sobre sexo, de se entregar na cama”, afirma.
A relação que a humanidade tem com o orgasmo feminino alterou-se ao longo dos tempos, entretanto, o foco sempre recaía sobre a necessidade de impedir o prazer das mulheres. Relatos da Grécia Antiga já evidenciavam a necessidade de reprimir as mulheres sexualmente. No caso de adultério por parte da esposa, por exemplo, entendia-se que a mulher tinha “excesso de libido” e, por isso, era obrigada a ficar descalça durante o inverno, já que se acreditava que o frio diminuía o desejo sexual. Na época dos Vitorianos (1838 – 1901), a influência da Grécia Antiga continuava perceptível. O médico Pierre Briquet retoma o conceito de “histeria”, originado do termo grego “hysterika“, que significa útero. Para ele, a histeria seria uma doença característica das mulheres, na qual os sintomas seriam desejo sexual potencializado e lubrificação vaginal. Dessa forma, a simples excitação feminina era interpretada como uma patologia, uma condição que deveria ser tratada. Ainda no final do século XIX, era preciso achar um tratamento para a dita doença. É nesse contexto, em 1891, que surge o vibrador. Visto como uma ferramenta médica, o primeiro dispositivo funcionava a vapor e servia para massagear as mulheres em suas regiões íntimas com intuito de curá-las da histeria por meio do orgasmo.
Nos tempos atuais, não é raro presenciar comentários negativos sobre aquelas que falam abertamente sobre sexo, uma vez que isso é entendido como um direito reservado apenas ao homem. O contexto torna mais difícil para uma mulher buscar informações sobre sua vida sexual, explorar seu corpo e ter um diálogo franco com o parceiro. Essa pode ser uma das razões que faz com que a lógica falocêntrica reine quando se trata de sexo, reiterando a crença de que a penetração é a principal forma de se ter prazer. Entretanto, segundo levantamentos, a penetração está em quarto lugar no quesito de sexo mais prazeroso, atrás de sexo oral, estimulação do clitóris pelo parceiro e da masturbação.
Mas, além da falta de comunicação entre os parceiros, existe outro fator que atrapalha a vida sexual das mulheres: a ansiedade. Para Elisangela, a mente das pessoas está ainda mais acelerada, se comparado há alguns anos. Essa agitação pode ser consequência do estresse da rotina, mas também da própria dificuldade de se ter o orgasmo. “É uma ansiedade gigante em ‘preciso ter’, que faz com que essa mente fique desfocada e, automaticamente, o corpo também”, afirma. O que acontece muitas vezes, então, é a formação de um ciclo nocivo, que compromete muito o prazer da mulher. A mente preocupada em atingir o orgasmo tende a não ficar presente no aqui e agora – ou seja, na relação em si.
Uma orientação para as mulheres com dificuldade de chegarem ao orgasmo é a busca por apoio profissional. Inicialmente, indica-se uma consulta a um ginecologista a fim de averiguar se há algum desequilíbrio orgânico ou fisiológico que pode justificar a dificuldade. Após esse procedimento, o próximo passo é procurar um especialista em sexualidade humana. “Nessas consultas, vamos tentar identificar o porquê dessa questão e realizar um processo de descondicionamento desses pensamentos”, explica a sexóloga. Elisangela afirma que muitas clientes que procuram sua ajuda ainda têm receio de explorar os próprios corpos. Qualquer experiência relacionada ao manuseio das partes íntimas vem cercada de culpa e até mesmo nojo. O tratamento muitas vezes consiste na possibilidade de falar sobre sexo de uma maneira natural e casual. Além disso, busca-se descobrir formas e técnicas para que a pessoa consiga se concentrar na relação sexual e não se distraia com pensamentos ansiosos durante o ato.
O mercado erótico e a comercialização de produtos diversos também têm contribuído para naturalizar o orgasmo feminino, seja pela promoção de uma relação saudável com a própria sexualidade ou por incentivar um diálogo mais aberto sobre sexo. Uma pesquisa realizada por uma universidade canadense comprovou que mulheres que utilizam vibradores tendem a ter relações heterossexuais mais saudáveis do que as que não usam o aparelho. “Conhecendo o corpo, já ultrapassadas algumas barreiras, ela vai conseguir usar produtos eróticos com facilidade, podendo desfrutar do prazer, de uma forma leve e sem culpa – como deveria ser”, afirma a sexóloga.