É permitido não gostar ou não dar conta de fazer tudo na quarentena!
Aumenta o número de pessoas com queixas relacionadas à pressão para seguir – ou cumprir – as preciosas dicas de atividades que surgem, a cada minuto, durante a quarentena. Uma verdadeira maratona de lives, cursos online, aplicativos com tarefas planejadas, listas enormes com sugestões de livros, filmes, séries e afins. Tudo com o objetivo de preencher as 24 horas do isolamento social.
Segundo Andréa Ladislau, psicanalista, “percebemos uma histeria coletiva para que o indivíduo consiga conciliar o suposto excesso de tempo com a grande oferta de ocupações. Muitas vezes impedindo a sua capacidade de admitir que não seja tão mega produtivo e conectado assim. O bombardeio, em um tempo carregado de incertezas, que não ajudam a relaxar, acrescido da sensação de impotência ou da incapacidade de se cumprir o que foi proposto ou imposto a si mesmo, pode manifestar sensações de estresse, ansiedade e muita, muita tensão. É o que chamamos de exaustão emocional”.
A ideia da improdutividade negativa, em alguns casos, ganha força quando nos incomodamos ao ver que o outro está realizando inúmeras atividades ao mesmo tempo: é assíduo no acompanhamento das milhares de lives, está concluindo vários cursos oferecidos por plataformas online;, praticando dança, atividades físicas, culinária, artesanato, enfim… É um exímio conhecedor e praticante dos mais variados aplicativos.
Precisamos entender que cada um tem seu ritmo e seu tempo de resposta aos estímulos externos. Não sucumbir a essa pressão também faz parte. E sim, você é normal quando não dá conta de tudo ou não se sente motivada a acompanhar ou fazer tudo o que está sendo oferecido, sugar baby! Não é um crime não acompanhar todas as lives, fazer os cursos ou estar em conexão direta todo momento.
Não precisamos corresponder às expectativas do mundo sempre. Tenha essa consciência e sua saúde mental agradecerá. Cada uma de nós é um ser único e, em nossa individualidade, trazemos uma essência singular – essência essa que irá determinar o nosso ritmo. Compreender a sua velocidade, dominar suas emoções, reconhecer suas reais necessidades, desejos e falhas é sinônimo de autoconhecimento. Portanto, não acelere e não negligencie seu “tempo interior” simplesmente para dizer ao mundo que sua quarentena está sendo produtiva.
Cobrar e se culpar por tudo, sem respeitar os seus limites e os seus anseios, sem dúvida alguma só irá aumentar a sua angústia. É muito importante ouvir seu próprio chamado interno. Fazer as coisas ao seu tempo. Lembrando sempre que o prazer na realização das atividades deve estar acima da sua auto cobrança de “ter que”. Não se sinta exaurida e nem obrigada a nada. Tudo o que gera desconforto, foge da normalidade.
Portanto, não faça nada por obrigação, sem vontade, apenas para atender ao apelo do bombardeio de sugestões de ocupação em tempos de pandemia. Seja honesta e genuína com sua essência e seu ritmo. Não force uma motivação. O desejo em realizar qualquer coisa deve surgir naturalmente para agregar, conciliando benefício e prazer. Quando o incômodo se instala, é possível que o equilíbrio emocional seja ferido e que ocorra o acionamento do gatilho para um processo de transtorno de ansiedade generalizada, até de depressão. Não alimente a neurose da produtividade que os tempos atuais têm trazido. Se todo excesso reflete uma falta, tenha cautela para não provocar uma exaustão mental, pincelada por culpas e cobranças, através de uma pressão insana. Viva um dia de cada vez sendo fiel ao seu ritmo e aos seus desejos!